Redação por TOMÁZ ANDRÉ: idealizador e fundador do Projeto Social VemVoar

Falar em kitesurf é algo que me motiva...
Agora, falar em ensinar kitesurf é algo que enche meu coracāo! Foi assim que surgiu a ideia de criar um Projeto Social para o ensino do kitesurf: o VemVoar.

Com foco na geração de oportunidades na vida de jovens e adultos das comunidades do litoral do Ceará, a missão é levar o kitesurf, não só para aqueles que querem praticar o esporte e se tornarem atletas, mas também para os que querem entender do kitesurf para conversar com outros kitesurfistas visitantes em seus vilarejos e, assim, criarem novas conexões e possibilidades de melhoria de vida.


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nossa história começou em 2016, no município de Itarema, uma cidade pequena, distante 220Km da capital do Estado, Fortaleza. Itarema possui pouco mais de 40 mil habilitantes, distribuídos entre zona do interior, centro e zona costeira.

Foi na Ilha do Guajiru, na zona costeira de Itarema, onde está localizada a escola de kitesurf SoulKite Brazil, que nós começamos o trabalho com duas jovens crianças. O Carlinhos, na época, tinha apenas 12 anos e, atualmente, é um atleta de freestyle com apoio de grandes marcas do kitesurf internacional. O menino Davi, com 14 anos, infelizmente não deu continuidade por falta de incentivo do pai, que queria que ele trabalhasse como seu ajudante nas obras de pousadas da praia.

"O kitesurf mudou minha vida e eu devo tudo à oportunidade que a SoulKite Brazil me deu."
Carlinhos, atleta de kitesurf iniciado no Projeto VemVoar.

Já Davi, sempre vem nos visitar e, em sua última vinda, me emocionou relatando que: 

"Se não fossem as nossas boas conversas antes, durante e depois das aulas, a vida dele teria o mesmo destino de muitos dos garotos da sua rua”.

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Em nossa breve história, também há o aluno Jonathan, ou carinhosamente chamado por nós: John John. Ele é um rapaz portador de Síndrome de Down, que hoje tem 21 anos. Filho de uma windsurfista e kitesurfista que tem uma pousada na Ilha do Guajiru, a qual recebe, essencialmente, kitesurfistas.  

O Jonathan cresceu no ambiente do kitesurf e sempre se interessou pelo esporte. Quando decidiu praticar o kitesurf em 2017, com o apoio da mãe, sofreu rejeição da escola que procuraram inicialmente. Lá, foi dito que ele não teria condições de aprender.
Então, o VemVoar decidiu assumir esse desafio profissional e ajudar o John a se transformar em um kitesurfista.

Jonathan é uma pessoa cativante, irreverente, proativa e extremamente esperta. Eu enxerguei nele um incrível potencial! Nós precisaríamos direcionar suas aptidões para a sua evolução no kitesurf e, também, para uma carreira profissional dentro do turismo, já que sua mãe tem uma pousada no vilarejo.

Nossas primeiras aulas foram bem desafiadoras, pois o John não gostava da areia da praia…daí vocês imaginam o tamanho do desafio!

Com calma e carinho, iniciamos o desenvolvimento de habilidades que ele adora executar, como: nadar, se alongar, meditar e, por fim, montar a pipa de kitesurf!

Passamos a pedir ao John que ele inflasse a pipa e se ele estivesse incomodado com a areia, que limpasse o kite. Tudo isso, com a estratégia de fazê-lo se adaptar com a condição natural para qualquer praticante de esportes no mar.

Naturalmente, ele se adaptou ao treinamento diário e passou a não se incomodar mais com a areia, e sim com o sol no seu rosto. Colocamos nele um óculos de sol e, desse modo, ele simplesmente avançou dentro do esporte!

Com a ajuda de outros instrutores que trabalham na escola, desenvolvemos um rodízio, no qual Jonh já tinha algumas habilidades e cada instrutor, de forma criativa, o ajudava a avançar um pouquinho mais.
Foi um processo de aprendizagem mútua! Muito legal ver o progresso dele e do time que sempre nos auxiliou neste desafio!

E aí, surgiu uma nova empreitada: levar o kitesurf para outras praias no litoral do Ceará.
Nessa perspectiva, durante o período de baixa temporada, saíamos em busca de novos lugares para ensinar o esporte, zonas onde o turismo não chega, porém existem garotos que vêem os kitesurfistas passando nos downwinds e kitetrips, algo tão comum na costa cearense.  

Ao chegar em um novo destino, logo tratava de alertar os nativos sobre as aulas gratuitas de kitesurf. Muita gente se aproximava, mas eram poucos que se propunham a querer aprender. E, assim, foram acontecendo as aulas em locais menos tradicionais, como: Praia do Jiqui, Caetanos de Baixo, Praia Volta do Rio em Acaraú, Praia de Bitupitá…

resultado foi muito bacana, pois sempre que voltávamos, os garotos tinham ensinado kite-controle para outros garotos, garotas, pais, irmão, primos, etc… A cada ano, tinha um número maior de crianças para aprender e os alunos mais antigos querendo se desenvolver ainda mais.

Então, nos reinventamos! Através de apoiadores, começamos a receber equipamentos de doações específicos para o ensino (pipas trainer, pipas 4m, 5m e 6m, barras de linhas longas que encurtávamos para a pipa não ganhar tanta força, trapézios, coletes e capacetes de borracha) e passamos a deixá-los nessas comunidades.

Desse modo, já não precisariam esperar um ano até o nosso retorno e, sim, poderiam desenvolver kite-controle com novos praticantes ou, simplesmente, curiosos do mundo do kite.

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repercussão foi super positiva, porque os garotos passaram a treinar seus pais!
O grande barato de tudo isso, é que os pais dos garotos passaram a entender e conversar sobre kitesurf com os visitantes e turistas.

Todo kitesurfista ama estar em conexão com o ventocom a natureza e com a simplicidade da vida nativa. Esse é o real sentimento que a gente quer compartilhar através do kitesurf: o amor pelo esporte, a geração de oportunidades e turismo sustentável dentro das vilas de pescadores. Pensamos que só assim, a essência desses lugares não deixará de existir em todas as lindas Praias do Ceará!

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VISTA AÉREA DA ILHA DO GUAJIRU, ITAREMA - CEARÁ. Imagem drone @chuvadosfracos

Texto postado no site da Local Kiteboarding

https://localkiteboarding.com/news/projeto-social-vemvoar