Tomaz dá aulas para Jonatas, que tem Síndrome de Down, e valoriza chance de mudar a vida de jovens na Ilha de Guajiru, em Itarema.

Na Ilha de Guajiru, no município de Itarema, no Ceará, os bons ventos proporcionaram o encontro de Tomaz, de 40 anos, e Jonatas, de 24. O primeiro é formado como técnico em mecatrônica, trabalhou durante mais de seis anos com montagem de parques eólicos e fotovoltaicos em diversas regiões do Nordeste. Sua paixão pelo vento e natureza fez com que Tomaz se profissionalizasse como instrutor internacional de kitesurfe, esporte que pratica desde os 26 anos. O segundo é um apaixonado por esportes e tem Síndrome de Down. Nada que o impeça de cair na água para praticar o kitesurfe ao lado de Tomaz. Ele também joga futebol e é faixa preta de karatê.

- Percebi que o movimento do kite vinha em uma valorização muito grande. Agora trabalho de forma totalmente profissional. A minha rotina começa em junho ou julho, com os ventos alísios. Na baixa temporada, eu viajo para outros lugares e trabalho promovendo o o município de Itarema, local onde eu vivo. A Ilha do Guajiru, eu acredito que é a melhor geografia do Brasil para ensinar e aprender kitesurfe. É também a maior lagoa de água salgada do Ceará - diz Tomaz.

- Eu sempre tive uma ideia muito voltada para o social. O esporte pôde me promover essa experiência de compartilhar algo que amo fazer, e, levar para outras pessoas. Conheci o Jonatas ele tinha 17 anos, ele praticava futebol, karatê, mas eu via que ele queria interagir com os kitesurfistas, afinal ele é filho de uma kitesurfista. Eu fiz o convite, a gente começou a fazer um trabalho de longo prazo, já tem dois anos - conta.

O projeto "Vem Voar" nasceu há três anos pela vontade de Tomaz em ajudar crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade social e portadores de necessidades especiais. Segundo a mãe de Jonatas Librini, Alicia Librini, o filho sempre teve vontade de aprender o kite. O menino admirava as pipas gigantes no ar. Ele confirma.

- Tudo que está aqui eu gosto, de velejar com Tomaz, todo dia. Eu tenho o karatê, estou na faixa preta. Ele é fera do kite, bom amigo, me dá muitos conselhos. Me ensina matemática, inglês e fazemos exercícios de yoga juntos. Kite é um esporte que é tudo, dá emoção e curto a praia, eu gosto dessa área aqui - comenta Jonatas.

Além de Jonatas, Tomaz também trabalha com João, portador de deficiência auditiva. O pagamento das aulas no projeto é a limpeza da área da lagoa. A escola de Tomaz, Soul Kite Brazil, tem como referência de localização a entrada da Ilha do Guajiru, local que recebe esportistas de todo o mundo.

- Quando conheci o Tomaz e ele disse que meu filho poderia aprender a velejar, foi uma emoção muito grande. Meu filho é capaz, sim, e agradeço o Tomaz por acreditar e fazer realizar essa vontade do meu menino - afirmou Alícia, mãe de Jonatas.

Tomaz conta que admira o projeto social da Barra Grande no Piauí (projeto Vivo) e Carlos Mário, o Bebê, uma das referências do esporte. Para Tomaz, o retorno de dar aulas com inclusão é imaterial.

- O retorno é a energia, eu tenho mais de um terço da minha vida dedicado ao kitesurfe. Eu sou grato a Deus e ao esporte, porque o kite mudou a minha vida. Tenho satisfação e me sinto honrado, ver pessoas que iniciei ou ajudei, a se tornarem kitesurfistas apaixonados. Tenho prazer em ajudar a comunidade a se desenvolver... O projeto Vem Voar só existe para provar que o kite é um exporte de inclusão, principalmente para as pessoas desacreditadas. É isso que me motiva a continuar a luta - encerra.

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